Saudações Cybertronianas...
Créditos (Texto Original): David Nery - Nível Épico
Uma coisa que as gerações mais novas nunca irão entender é que já existiu um mundo sem internet. A disponibilidade e o acesso à informação não era tão vasto e fácil como é hoje. O que tínhamos era o que os meios de comunicação tradicionais como TV, rádio e mídia impressa nos oferecia. Quando o assunto era o mercado de brinquedos, ficávamos limitados ao que os grandes fabricantes da época jogavam no mercado. Tanto é que qualquer brinquedo importado, normalmente trazido por algum amigo ou parente que viajou ao exterior (o que, naquela época, também não era algo tão acessível como é hoje), se tornava o assunto do dia durante a hora do recreio. Tal situação era bem refletida com os Transformers lançados no Brasil.
A Estrela Brinquedos lançou em maio de 1985 a linha Transformers no Brasil. O licenciamento que a empresa fez com a Hasbro não permitia o uso da logo oficial da franquia Transformers, muito menos, as logos das facções. Além disso, como, nesta época, a série animada, os livros e revistas em quadrinhos ainda não haviam sido lançados, não houve nenhum tipo de preocupação em alinhar os brinquedos com essas mídias para as crianças associarem aos personagens e comprarem os itens. Com isso, a linha brasileira dos Transformers é praticamente um “frankenstein” misturando personagens da série oficial com brinquedos de outras linhas que sequer tinham relação com a mitologia dos robôs cybertronianos mas que, por se tratarem de carros que viram robôs, era o suficiente para ser considerado um Transformer aos olhos da Estrela.
A linha inicial dos Transformers da Estrela era composta por quatro tipos de robôs: os Robocars, os Saltman, os Bat-Robôs e os Eletrix. Os Robocars e os Saltman, das quatro categorias, eram os únicos personagens que eram, de fato, Transformers, porém, ao serem lançados no Brasil foram reduzidos a meros personagens genéricos com fichas técnicas traduzidas dos robôs que serviram de molde para eles.
Os Robocars eram compostos pelos seis robôs que a linha americana chamava de Minibots e representavam os personagens Bumblebee, Cliffjumper, Gears, Brawn e Windcharger e foram lançados aqui como Robocar Volks, Robocar Carrera, Robocar Pick-Up, Robocar Jipe e Robocar Camaro, respectivamente. O sexto personagem é a grande particularidade desta série, pois, se tratava de um robozinho cujo molde foi lançado na linha Microman da Takara no Japão (uma das linhas de brinquedos que serviu de base para os Transformers), porém, nunca foi lançado oficialmente pela Hasbro, apesar de ter sido vendido no mercado americano um lote deste personagem com a cartela do Cliffjumper, vacilada que a própria Hasbro nunca conseguiu explicar como aconteceu. O tal robozinho em questão foi lançado aqui como Robocar Sedan e ele fez do Brasil o único país do mundo a tê-lo como personagem oficial da linha Transformers na época. Outra grande particularidade da série Robocar é que, cada um destes seis robozinhos, foi disponibilizado com dois esquemas de cores cada, totalizando doze opções de personagens da linha Robocar, sendo que várias destas opções de cores também foram lançadas apenas no Brasil.
Outros personagens que foram lançados aqui usando modelos dos Transformers originais foram os Saltman, movidos à fricção em suas formas alternativas que, quando os soltávamos, eles vinham rodando e, em determinado momento, davam uma cambalhota no ar parando em pé na forma de robô. Os Saltman nada mais são do que os Autobots Top Spin e Twin Twist conhecidos como Jumpstarters, entretanto, vinham com dois esquemas de cores diferentes para cada modelo e se chamavam Saltman Z e Saltman X, respectivamente.
Ao contrário das séries anteriores, os Bat-Robôs não são personagens oficiais da linha Transformers. Na verdade, os moldes são de uma linha chamada Powertrons lançada pela empresa japonesa Fujisho. Nos Estados Unidos, foram lançados pela Ertl como Pow-R-Trons. Os Bat-Robôs possuíam dois modelos, Turbo e Pick-Up (originalmente lançados como Turboid e Distroid pela Fujisho) e tinham uma mecânica parecida com a dos Saltman, só que em vez de darem cambalhotas no ar, eles precisavam “bater” de frente em uma parede para se transformar em robô. Assim como os Saltman, cada modelo foi disponibilizado com dois esquemas de cores diferentes. Curiosamente, na mesma época em que foram lançados pela Estrela, uma de suas maiores concorrentes na ocasião, a Glasslite, lançou os mesmos robôs na linha Mutante, concorrente direta dos Transformers, batizando os de Crashtron, onde o Turbo se chamava Turborg e o Pick-Up se chamava Blocker. Cada um com outros dois esquemas de cores diferentes, mais legais até que os da Estrela, na minha opinião.
A linha Transformers brasileira também tinham os robôs chamados Eletrix, que consistiam em três modelos (Jipe, Esporte e Porsche nas cores azul, vermelho e preto, respectivamente) que se transformavam de carro para robô e vice-versa através de um controle remoto alimentado por duas pilhas AA e ligado aos carrinhos através de um fio. Os Eletrix, originalmente, são itens de uma linha de brinquedos japonesa chamada Remote Change Robo Series lançada pela empresa Yonezawa Toys. Ao contrário das séries anteriores, os Eletrix eram disponibilizados apenas com um esquema de cor cada, apesar de existirem rumores não confirmados de que o Eletrix Esporte também foi vendido na cor preta.
Já em 1986, com a série animada sendo exibida na TV e as crianças da época já sabendo a diferença entre um Autobot e um Decepticon, a Estrela, que vinha perdendo terreno para as linhas concorrentes Mutantes da Glasslite e os Converts da Mimo, teve que reagir. Como já mencionado antes, o licenciamento feito pela Estrela não envolvia o uso das insígnias e o nome das facções dos Transformers na linha de brinquedos, daí lançou no mercado a série Optimus x Malignus, que, nada mais eram do que os Robocars, com mais duas outras opções de cores cada (boa parte delas até exclusividade do mercado brasileiro) e, agora, divididos em facções, cada uma com uma insígnia criada exclusivamente para esta linha: Volks, Carrera e Sedan para o lado dos Optimus e Pick-Up, Jipe e Camaro para o lado dos Malignus. Os nomes das facções são baseados nas designações receberam nas publicações brasileiras, no caso, os Optimus representavam os Autobots e os Malignus são os Decepticons. Com exceção de um jogo de tabuleiro, nenhum outro item foi lançado na linha Transformers da Estrela após os Optimus x Malignus e, se for para colocar os motivos disso, seria mera especulação de minha parte.
Graças a estas particularidades da linha brasileira, colecionadores de Transformers do mundo todo olham os robozinhos da Estrela com respeito e a consagração disto veio em 2008 com a inclusão dos Malignus Jipe, Camaro e Pick-Up, além do Bat-Robô Turbo no universo expandido do Transformers Collector’s Club na história Withered Hope.
No ano seguinte, os personagens Volks, Carrera, Sedan e Furão (nome brasileiro dado ao Bumblebee nos quadrinhos nacionais), não só fizeram aparições em diversos episódios da série Transformers Animated, como foram incluídos oficialmente na mitologia da série como personagens distintos no livro Transformers Animated: The Allspark Almanac II.
Estes personagens em Transformers Animated foram inspirados no Optimus Volks laranja, Optimus Carrera azul, Robocar Sedan branco e no Robocar Volks amarelo. Quem iria imaginar que aqueles robozinhos que ocupavam as prateleiras das lojas brasileiras fariam sucesso mundial até hoje?